Os hormônios são substâncias produzidas pelas diversas glândulas do sistema endócrino, que se encontram em diferentes regiões do corpo humano e funcionam como sinalizadores celulares com a função de realizar a comunicação entre diversos órgãos e estruturas dos sistemas fisiológicos.
As glândulas do sistema endócrino são também componentes de outros sistemas – como acontece com os ovários e os testículos, o que são as glândulas sexuais das mulheres e dos homens e estruturas indissociáveis também da fertilidade masculina e feminina.
Os hormônios GnRH (Hormônio liberador de gonadotrofina) e as próprias gonadotrofinas LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio folículo-estimulante) são produzidos respectivamente no hipotálamo e na hipófise, estruturas compartilhadas pelo sistema nervoso central, e que têm nas glândulas sexuais seus órgãos-alvo.
A ação desses hormônios nos testículos e ovários induz à produção dos hormônios estrogênio e testosterona, além da progesterona, mais relacionada à função reprodutiva das mulheres.
O HAM (hormônio antimülleriano) também está envolvido nos processos da função reprodutiva, porém de forma mais ativa durante o período embrionário.
Vou apresentar para você o hormônio antimülleriano, seu papel na fertilidade das mulheres e como sua dosagem é importante para análise da reserva ovariana.
O que é o HAM (hormônio antimülleriano)?
O HAM foi descoberto da década de 1940 e classificado como uma substância pertencente à superfamília dos fatores de crescimento. É produzido pelo corpo dos homens e também das mulheres.
Nos homens, a produção acontece nas células de Sertoli, localizadas nas paredes dos túbulos seminíferos (nos testículos) e próximas aos espermatócitos e células de Leydig, essenciais para a espermatogênese (também nos testículos).
Nas mulheres, o HAM ocorre nas células da granulosa, apenas em folículos primários, que não foram recrutados para o processo de amadurecimento que antecede a ovulação.
A atividade dos hormônios sexuais tem início ainda no período embrionário, com a atuação do HAM no processo de formação dos ductos de Müller, nos embriões do sexo feminino, e dos ductos de Wolf, nos embriões masculinos.
Durante a vida pré-natal, o HAM é produzido quase exclusivamente por embriões masculinos, e sua principal ação, atrelada à diferenciação sexual dos embriões, é a inibição da formação dos ductos de Müller, que nos embriões femininos originam o útero e as tubas uterinas.
Na vida pós-natal, a dosagem desse hormônio pode ser uma ferramenta nos processos de avaliação da reserva ovariana, que avalia o potencial reprodutivo das mulheres, em um determinado momento da vida.
Por que o HAM é um marcador da reserva ovariana?
Na mulher adulta, o HAM é produzido apenas pelos folículos primários e sua principal função é diminuir a sensibilidade desses folículos à ação de recrutamento do FSH, impedindo que um número exagerado de folículos seja recrutado para ovulação, afetando a reserva ovariana além do esperado.
O tamanho da reserva ovariana é definido durante a vida fetal: todos os folículos primordiais são produzidos até a 20ª semana de desenvolvimento embrionário, quando os ovários abrigam aproximadamente sete milhões de folículos.
A partir disso, aproximadamente 50 mil folículos são consumidos diariamente, e no nascimento a mulher conta com no máximo dois milhões – que também entrarão em atresia até a puberdade.
Quando a vida reprodutiva da mulher tem início, seus ovários contam com 300 mil a 500 mil folículos, e, em cada ciclo reprodutivo, cerca de 1000 serão recrutados para o amadurecimento, ainda que apenas 1 conclua este processo, liberando o óvulo na ovulação.
Isso significa que a concentração de HAM em um determinado momento da vida é proporcional à quantidade de folículos primários ainda presentes no interior dos ovários, sendo por isso útil para estimar a reserva ovariana, ou seja, reflete o número de óvulos disponível para a ovulação.
O que a dosagem de HAM indica?
O exame de dosagem do HAM é realizado em uma amostra de sangue e seus resultados são avaliados em conjunto com exame de contagem dos folículos antrais, que complementa o processo de análise da reserva ovariana.
A contagem dos folículos antrais é realizada pelo método de amostragem, a partir de imagens dos ovários conseguidas por ultrassonografia transvaginal.
Importante dizer que esses exames buscam estimar o potencial de fertilidade da mulher, porém devem ser analisados no contexto da investigação das causas da infertilidade, não apenas isoladamente.
Infertilidade e reprodução assistida
A vida reprodutiva da mulher, diferentemente do que acontece com o corpo masculino, é limitada pela reserva ovariana e chega ao fim aproximadamente na quinta década de vida, com a menopausa.
Durante o período entre a puberdade e a menopausa, a reserva ovariana é consumida sistematicamente a cada ciclo reprodutivo, o que significa que, a partir dos 35 anos, já é possível observar uma redução sensível nessa reserva, e consequentemente no potencial de fertilidade da mulher.
Atualmente, a medicina reprodutiva pode auxiliar mulheres que desejam adiar a maternidade a partir da preservação social da fertilidade, em que se recomenda a coleta de óvulos preferencialmente antes dos 35 anos, para que essas células possam ser criopreservadas e conservadas, até o momento em que a mulher decida que é hora de engravidar.
A preservação social da fertilidade deve ser realizada no contexto da FIV (fertilização in vitro).
Entenda melhor como funciona a avaliação da reserva ovariana acessando nosso conteúdo.