Sabemos que cerca de 40% dos casos de infertilidade conjugal são causados por fatores masculinos. Os principais motivos da infertilidade masculina são a qualidade e a contagem dos espermatozoides no sêmen. A azoospermia, principalmente a não obstrutiva, que é a ausência total de espermatozoides no sêmen ejaculado, por problemas de produção dos gametas, está entre as causas mais comuns de necessidade de doação de gametas.
Quando o homem apresenta dificuldade de ter filhos, ele pode recorrer aos bancos de sêmen para utilização de espermatozoides doados em técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro (FIV) e, em alguns casos, a inseminação artificial (IA).
Por muito tempo, acreditou-se que a idade do homem não prejudicava sua fertilidade. Hoje, sabemos que, com o passar do tempo, embora os gametas masculinos sejam produzidos continuamente, sua qualidade diminui, reduzindo a fertilidade. A qualidade espermática decresce a partir dos 45 anos de idade.
Neste texto, vamos abordar a regulamentação da doação de sêmen no Brasil, quando ela pode ser indicada e como é feito o procedimento de doação em si.
Regulamentação
No Brasil, a doação de espermatozoides é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que atualiza periodicamente as regras e as normas éticas para a reprodução assistida de modo geral.
Algumas regras importantes da doação de espermatozoides são:
- A doação não pode ter caráter lucrativo ou comercial;
- Os doadores não devem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa;
- A idade limite para a doação de espermatozoides é de 50 anos;
- Deve ser mantido, obrigatoriamente, sigilo sobre a identidade dos doadores, bem como dos receptores.
A regulamentação é fundamental para que as técnicas sejam realizadas de maneira segura, efetiva e que cumpram o objetivo de oferecer a outros casais inférteis a possibilidade de ter filhos.
As normas restringem a doação de espermatozoides a homens até 50 anos por alguns fatores, principalmente pela qualidade dos gametas. Acima dessa idade, as taxas de sucesso da FIV podem ficar reduzidas e a doação não cumprir seu principal objetivo.
De acordo com essas regras e considerando os tipos de problemas que podem levar o homem à infertilidade, a doação de espermatozoides tem indicações específicas.
Indicações
Avaliamos cada casal individualmente para que o tratamento da infertilidade tenha as melhores taxas de sucesso. O maior objetivo é conseguir a gravidez.
Geralmente, se o homem tiver parâmetros seminais mínimos de qualidade, tentamos inicialmente a FIV utilizando seus gametas. Caso a técnica não tenha sucesso, pensamos na possibilidade de doação.
A doação de espermatozoides é indicada, principalmente, para:
- Homens com azoospermia;
- Homens com espermatozoides de baixa qualidade (motilidade e morfologia);
- Casais homoafetivos femininos;
- Mulheres que busquem a produção independente.
Essas condições masculinas geralmente são consequências de doenças, como varicocele, caxumba e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Se não tratadas adequadamente, podem provocar infertilidade. É importante sempre procurar auxílio médico quando algum sintoma for percebido.
Casais homoafetivos femininos e mulheres que estejam buscando a produção independente também podem utilizar a doação de espermatozoides. No caso das mulheres, diferentemente do que acontece com os homens, elas têm os óvulos e o útero, sendo mais fácil a realização da FIV.
Enquanto os homens precisam de óvulos e da cessão temporária de útero para conseguir ter um filho, as mulheres precisam apenas dos espermatozoides, que podem ser doados.
A doação de sêmen é feita por intermédio de uma clínica de reprodução assistida. Existem inúmeros bancos de sêmen no Brasil e em outros países que oferecem esse serviço.
Como é feito o procedimento
A doação de sêmen, aceita após análise dos exames, é mais simples do que a doação de óvulos, pois não é necessário nenhum procedimento para este fim, apenas a coleta em laboratório.
A primeira etapa é a avaliação do homem. Ele precisa ser saudável, ter bons parâmetros seminais e atender às exigências da regulamentação do CFM. Para essa avaliação, é fundamental a realização de exames, como o espermograma, além de exames de sangue para identificar ISTs.
Também é necessário ter disponibilidade para passar por todo o processo de avaliação e de doação na clínica.
Cumprindo essas exigências, o homem pode ser doador de esperma. A coleta é semelhante à do espermograma, em que ele vai ao laboratório e é encaminhado para uma sala específica de coleta, feita por masturbação. Deve ser feita higienização local prévia à coleta para não haver contaminação.
O sêmen é mantido por tempo indeterminado em criopreservação, até ser solicitado para utilização.
Se alguém pensa em doar espermatozoides, deve procurar uma clínica de reprodução assistida, na qual receberá a orientação necessária.