As técnicas de reprodução assistida, principalmente a fertilização in vitro (FIV), podem ser indicadas para diversos fins, inclusive para a preservação social da fertilidade. Esse tipo de preservação da fertilidade é indicado para mulheres, uma vez que os homens nunca têm sua produção de gametas reduzida a zero, embora a qualidade diminua com o passar do tempo.
O termo preservação social da fertilidade tem origem nas transformações pelas quais a sociedade tem passado do ponto de vista social. A mulher tem conquistado cada vez mais espaço e, consequentemente, está postergando a gravidez.
A mulher, que anteriormente tinha o papel restrito a procriar e cuidar das tarefas domésticas, conquistou o mercado de trabalho, com foco na carreira profissional e na sua independência emocional e financeira. Contudo, esse fato leva a protelar a maternidade para momentos em que a fertilidade já está reduzida.
Nessa nova realidade, a mulher pode optar por preservar sua fertilidade para ter filhos mais tarde. Isso é possível pelo congelamento de óvulos por vitrificação (também chamada de congelamento ultrarrápido), técnica que preserva a integridade dos gametas por tempo indeterminado.
Com esse recurso, a mulher pode ter filhos a partir de seu próprio material biológico com uma idade mais avançada.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) permite a utilização de técnicas de reprodução assistida para esse fim: o uso das técnicas de reprodução assistida para preservação social de gametas amplia as oportunidades de melhorar o planejamento reprodutivo.
Neste texto, vamos abordar as indicações, como é feita a preservação social da fertilidade, a reprodução assistida nesse contexto e as taxas de sucesso.
Indicações
A preservação social da fertilidade é indicada para todas as mulheres que têm a intenção da maternidade em idade mais avançada e querem preservar a fertilidade para terem filhos com seu próprio material biológico.
Como é feita a preservação social da fertilidade
A preservação social da fertilidade é realizada em clínicas de reprodução assistida mediante a criopreservação de óvulos. O processo é semelhante às etapas iniciais da FIV: avaliação médica para investigar a fertilidade, estimulação ovariana, indução da ovulação e punção folicular, finalizando com a criopreservação.
Avaliação médica para investigar a fertilidade
Para que a preservação tenha bons resultados, é importante avaliar a fertilidade da mulher previamente, como a reserva ovariana e os níveis hormonais. Os exames solicitados são:
- Ultrassonografia e hormônio antimülleriano para avaliação da reserva ovariana e outras condições da região pélvica, como doenças;
- Dosagens hormonais do FSH, LH, estradiol, hormônios da tireoide, entre outros.
Esses exames fornecem dados importantes sobre a fertilidade feminina, sendo possível estimar a resposta à estimulação ovariana. Dependendo das condições da fertilidade da mulher, serão necessários múltiplos ciclos de estimulação ovariana para a coleta de um número adequado de óvulos.
Nessa ocasião, é feita a orientação sobre todas etapas do tratamento para a criopreservação dos óvulos.
Estimulação ovariana e indução da ovulação
A primeira etapa do processo de preservação social de óvulos é a estimulação ovariana e a indução da ovulação, procedimentos complementares cujo objetivo é aumentar a produção de óvulos em apenas um ciclo menstrual.
A estimulação ovariana é feita com medicamentos à base de hormônios (FSH/LH) por cerca de 10 dias. Esses medicamentos aumentam os níveis de FSH no organismo feminino e provocam o recrutamento de um número maior de folículos (que contêm os óvulos) e não de apenas um, como ocorre a cada ciclo natural. O número de folículos é variável, de acordo com a fertilidade feminina e influenciado, sobretudo, pela idade.
O crescimento dos folículos é monitorado por ultrassonografia, realizada a cada dois dias, em média. Quando os folículos atingem cerca de 20 mm, é administrado o hCG, hormônio responsável pelo amadurecimento dos óvulos contidos nos folículos, que são coletados por punção ovariana.
A estimulação ovariana é fundamental para o êxito do tratamento. Existe uma perda de óvulos no processo de congelamento e descongelamento, assim como na fecundação. Se o número de óvulos for baixo, os embriões formados poderão ser insuficientes para a gravidez.
Punção folicular
Depois que o hCG estimula o amadurecimento dos óvulos, o líquido folicular, que contém os óvulos, pode ser coletado. Seguimos, então, para a próxima etapa: punção. Esse procedimento é realizado em ambiente cirúrgico, sob efeito de anestesia, com aspiração do líquido folicular utilizando uma agulha fina e guiado por ultrassonografia.
O procedimento dura aproximadamente 20 minutos.
O líquido aspirado é analisado, concomitantemente, no laboratório de embriologia para identificação e separação dos óvulos.
Criopreservação
Os óvulos coletados são criopreservados pelo processo denominado vitrificação ou congelamento ultrarrápido. Os gametas podem permanecer congelados por tempo indeterminado.
A vitrificação consiste no congelamento dos óvulos em nitrogênio líquido à temperatura de 196oC. Conforme a temperatura diminui, são utilizadas soluções crioprotetoras para evitar a formação de cristais de gelo no interior das células.
É um processo rápido e que apresenta altas taxas de sucesso. Quando houver o desejo da gravidez, pode ser feito o descongelamento dos óvulos para a FIV.
Taxas de sucesso de gravidez após a preservação social da fertilidade
O sucesso da preservação social da fertilidade tem relação direta com o sucesso da FIV, que é de aproximadamente 40%. Essa taxa pode variar de acordo com a idade da paciente no momento da intervenção para preservação social.