Dentre as doenças que afetam a fertilidade feminina, a endometriose se destaca pela diversidade de manifestações e por possuir prevalência em mulheres durante a fase reprodutiva, sendo responsável por milhões de casos de infertilidade feminina no mundo todo.
Por isso, é um tópico de grande interesse entre pacientes que desejam engravidar, e de vital importância para se discutir a saúde ginecológica feminina.
Crônica e inflamatória – deve ser acompanhada durante todo o período reprodutivo –, a endometriose muitas vezes é assintomática, o que dificulta o diagnóstico precoce. No entanto, quando provoca sintomas, pode ser grave. Eles abrangem dores severas, interferindo na qualidade de vida das mulheres portadoras.
Porém, mesmo com todas essas características, a endometriose tem tratamento, possibilitando a gravidez quando há o desejo de maternidade e promovendo o alívio dos sintomas. Entre as opções estão as técnicas de reprodução assistida. Continue a leitura para saber mais.
O que é endometriose?
O útero, um dos mais importantes órgãos do sistema reprodutor feminino, é revestido internamente por um tecido epitelial vascularizado denominado endométrio, que é estimulado ciclicamente pela ação do estrogênio. O endométrio se torna mais espesso durante o aumento dos níveis de estrogênio, com o objetivo de receber um embrião caso ocorra fertilização do óvulo liberado naquele ciclo reprodutivo.
Quando não ocorre a fertilização, os níveis hormonais decrescem e boa parte do endométrio é eliminado na menstruação, iniciando um novo ciclo.
Na endometriose, um tecido semelhante ao endométrio cresce fora do útero, em locais geralmente próximos, como o peritônio, os ovários, as tubas uterinas e, menos comumente, em outros órgãos das cavidades pélvica e abdominal. Pode, por exemplo, invadir a bexiga e o intestino.
Os implantes endometriais encontrados nesses locais, assim como o endométrio normal, também são estimulados ciclicamente pelo estrogênio, o que provoca o desenvolvimento do tecido ectópico e um processo inflamatório, que pode causar alterações na fertilidade desde os estágios iniciais da doença.
São quatro os estágios de desenvolvimento da doença e três os subtipos, definidos a partir da localização e profundidade dos implantes e do comprometimento dos órgãos afetados.
Mínima;
Leve;
Moderada;
Severa.
Ainda que nos estágios iniciais a doença nem sempre cause infertilidade, o processo inflamatório pode causar alguns efeitos em diversas mulheres, como interferências no processo de desenvolvimento, amadurecimento e rompimento do folículo, o que leva a problemas de ovulação.
Também interfere no ciclo endometrial, alterando o período de receptividade para que a implantação ocorra, resultando em falhas e, por consequência, perda da gravidez.
Além disso, pode comprometer a qualidade de óvulos e, assim, a do embrião formado, o que resulta, da mesma forma, em falhas e abortamento, assim como tende a comprometer a mobilidade tubária, inibindo a captação do óvulo e a fecundação.
Classificação morfológica
A endometriose também pode ser classificada morfologicamente em: superficial peritoneal, endometrioma (cistos que se formam nos ovários) e infiltrativa profunda.
A endometriose superficial peritoneal se instala no peritônio, mas tem menos que 5 mm de profundidade. Já a infiltrativa profunda tem mais que 5 mm. Em ambos os casos a endometriose pode causar infertilidade. A superficial é mais difícil de detectar em exames, por isso muitas vezes não é diagnosticada.
Os endometriomas também causam distúrbios de ovulação e má qualidade dos óvulos, dificultando a fecundação e/ou levando a falhas e abortamento.
Sintomas e diagnóstico de endometriose
A endometriose, da mesma forma que várias outras enfermidades ginecológicas, muitas vezes é assintomática e por esse motivo comumente diagnosticada na investigação da fertilidade quando a paciente encontra dificuldades em engravidar.
Porém, independentemente da quantidade de implantes e do estágio de desenvolvimento da doença, diversos sintomas podem ocorrer. Os mais comuns são:
Cólicas severas antes e durante a menstruação (dispareunia);
Dor contínua na pelve;
Sangramento anormal durante ou entre as menstruações;
Dispareunia (dor durante a relação sexual);
Desconforto ao urinar ou evacuar;
Sangue nas fezes ou urina;
Infertilidade.
Além da avaliação física dos sintomas, para confirmar as suspeitas clínicas e garantir um diagnóstico detalhado, é necessário realizar exames de imagem, como a ultrassonografia pélvica transvaginal e a ressonância magnética. Em vários casos a videolaparoscopia pode ser indicada por possibilitar a visualização direta dos implantes e o tratamento deles.
Tratamentos de endometriose e reprodução assistida para ajudar a engravidar
Os tratamentos para a endometriose são individualizados e levam em consideração o desejo da paciente para engravidar e a intensidade dos sintomas manifestados.
Quando os sintomas são mais leves e a mulher não quer engravidar no momento, medicamentos hormonais são administrados para suspender a menstruação, enquanto os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) tratam dor e inflamação.
A mulher que quer engravidar e tem diagnóstico de endometriose pode optar pela reprodução assistida. No entanto, ela precisa ser avaliada de forma detalhada para que seja indicado o melhor tratamento para o seu caso. Cada paciente deve ter seu tratamento individualizado e personalizado.
Há técnicas de reprodução assistida de baixa e de alta complexidade. A indicação depende das condições da mulher.
As de baixa complexidade, relação sexual programada (RSP) e inseminação artificial (IA) podem ser indicadas para mulheres com endometriose mínima e leve, até 35 anos, com as tubas uterinas saudáveis, uma vez que a fecundação acontece naturalmente.
A FIV, de maior complexidade, possibilita a gravidez de mulheres com endometriose em estágios mais graves, que possuem mais do que 36 anos, pois prevê a fecundação em laboratório e a transferência dos embriões para o útero.
Quer saber mais sobre a endometriose? Continue lendo outro texto.