A possibilidade de preservação de diversos tipos de material biológico tornou-se realidade com o desenvolvimento de técnicas de congelamento ou criopreservação. Atualmente, o aprimoramento de processos específicos diminuiu consideravelmente as taxas de danos à integridade do material preservado.
Uma das áreas que mais se beneficiou desse progresso foi a medicina reprodutiva, na FIV, por exemplo, sua principal técnica, passou a ser possível a preservação de gametas e embriões.
Chamamos gametas as células reprodutivas de homens, os espermatozoides, e das mulheres, os óvulos –, que se diferem das demais do corpo humano por conterem apenas metade do DNA.
Na fecundação, seja ela por vias naturais, sejaem tratamentos com reprodução assistida, o encontro dos gametas feminino e masculino compreende principalmente a união do material genético de ambos. Isso leva a formação do zigoto, célula primordial do embrião.
O período do desenvolvimento embrionário inclui desde a formação das primeiras células a partir do zigoto, até aproximadamente a 8ª semana de gestação, quando tem início o desenvolvimento fetal.
Neste texto falaremos sobre como gametas e embriões podem ser preservados por congelamento, mostrando com detalhes os processos envolvidos e suas aplicações para as diversas demandas reprodutivas atendidas pela reprodução assistida.
Boa leitura!
O que é criopreservação?
Criopreservação é a conservação de material biológico, de diversas origens, por congelamento, mantendo íntegras todas as funções fisiológicas e estruturais do tecido preservado, normalmente por tempo indeterminado.
Além de gametas e embriões, a criopreservação também é utilizada largamente para preservação de tecidos, como as células do cordão umbilical, além de órgãos para transplantes.
Embora a criopreservação por vitrificação seja a técnica mais utilizada atualmente, além dela o processo pode ser feito por congelamento lento, um procedimento mais antigo e que apresenta taxas de dano celular mais altas.
No congelamento lento, o material biológico coletado previamente é embebido em uma solução contendo meio de cultura e crioprotetores, e submetido a uma diminuição gradual da temperatura, que congela lentamente, em um aparelho contendo nitrogênio líquido.
A principal diferença entre a criopreservação por congelamento lento e a vitrificação é a velocidade com que a temperatura é reduzida, até chegar ao ponto do congelamento.
Na vitrificação, além de o material ser submetido à uma redução ultrarrápida da temperatura e não gradual, como na outra técnica, a concentração de crioprotetores no meio de cultura também é maior.
Os crioprotetores são substâncias que protegem o material biológico contra algumas consequências do congelamento, como a formação de cristais no meio intracelular, que poderiam danificar a estrutura e a funcionalidade das células.
Como a criopreservação auxilia as técnicas de reprodução assistida?
A criopreservação por vitrificação, modalidade mais utilizada na medicina reprodutiva, revolucionou as técnicas de reprodução assistida, ampliando sua abrangência.
As diferentes metodologias de congelamento, que permitem a conservação de material reprodutivo, possibilitaram a criação de bancos de células reprodutivas e embriões, que podem ser utilizados inclusive por outros casais, como nos casos mais severos de infertilidade, nos quais o casal não pode contar com suas células reprodutivas, assim como para os homoafetivos.
Em que contexto a criopreservação é realizada na FIV?
Embora a IA (inseminação artificial) também tenha vantagens com o desenvolvimento das técnicas de criopreservação, já que a inseminação pode ser feita com sêmen de doador, que é armazenado por vitrificação, a FIV (fertilização in vitro) é a técnica de reprodução assistida que mais utiliza os procedimentos de congelamento rápido.
Freeze-all
Nos tratamentos tradicionais com a FIV, além da possibilidade de doação de gametas, a criopreservação é fundamental para aplicação de uma metodologia chamada freeze-all, em que todos os embriões são vitrificados logo após a fecundação, para que a transferência embrionária aconteça em outro ciclo reprodutivo.
Isso pode ocorrer tanto porque a própria estimulação ovariana, primeira etapa da FIV, alterou o preparo endometrial e o útero não se mostra receptivo aos embriões, o que é muito comum, mas também em casos de infertilidade por fator uterino, quando a mulher necessita acompanhamento e medicação para realizar o preparo endometrial.
Embriões excedentes da FIV
Uma situação também muito comum nos tratamentos tradicionais com a FIV é o excedente de embriões, que acontece principalmente pois a técnica prevê a fecundação de mais óvulos do que o número de embriões permitidos pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) para a transferência embrionária.
Isso porque, na FIV , tanto a seleção de gametas, antes da fecundação, como a de embriões, antes da transferência embrionária, pode ser feita para melhorar as chances de que o tratamento resulte em gestação.
Os embriões excedentes de cada tratamento, segundo o CFM, devem ser conservados por ao menos 3 anos, antes de serem descartadoscom autorização judicial. Podem também ser doados, desde que para pacientes em tratamento com a FIV.
Doação de sêmen e óvulos
A doação de espermatozoides, óvulos, assim como a de embriões, também é regulada peloCFM, que estabelece pré-requisitos para doadores, como idade, saúde mental e física, integridade das células reprodutivas, entre outros.
Ainda que a doação de sêmen voluntária seja permitida há algum tempo, somente desde 2017, data da regulamentação sobre ovodoação, as mulheres passaram a poderdoar seus óvulos sem que para isso precisem estar em um tratamento com a FIV.
Todos os gametas doados são selecionados previamente e armazenados em bancos de células, sendo posteriormente direcionados a casais que possuem características fenotípicas e fisiológicas semelhantes aos doadores.
As doações de gametas são anônimas ou, de acordo com a resolução atual de maio deste ano, podem ser feitas por parentes de até quarto grau dos pacientes em tratamento. .
Casais homoafetivos e pessoas solteiras que desejam ter filhos
Desde 2013, o CFM permite que casais homoafetivos masculinos e femininos, bem como pessoas solteiras que desejam ter filhos biológicos, possam se beneficiar da reprodução assistida, o que somente é possível pela doação de gametas, que depende diretamente do desenvolvimento das técnicas de criopreservação.
Enquanto os casais homoafetivos femininos podem também ser atendidos pela IA –embora a FIV ofereça a possibilidade de gestação compartilhada, que aumenta a participação do casal na gestação –, os casais homoafetivos masculinos dependem exclusivamente da FIV para ter filhos.
Isso porque além da doação de óvulos, o casal precisa encontrar uma mulher, que tenha até 4 graus de parentesco com algum dos membros do casal e aceite passar pela cessão temporária de útero, da transferência embrionária ao parto.
Preservação social da fertilidade
Ainda que a preservação social da fertilidadeseja indicada principalmente para mulheres, já que a reserva ovariana é um estoque limitado de células reprodutivas, os homens também podem recorrer a essa técnica para preservar sua fertilidade.
Na preservação social da fertilidade a mulher passa pela estimulação ovariana e aspiração folicular, contudo seus óvulos ficam armazenados, conservados por criopreservação, para que possam ser fecundados com segurança quando decidirengravidar.
Importante lembrar que a tanto a preservação social da fertilidade, como a preservação oncológica da fertilidade, assunto do próximo tópico, só são possíveis com a FIV.
Preservação oncológica da fertilidade
Os tratamentos oncológicos, especialmente a quimioterapia e a radioterapia, têm grande influência na integridade das células reprodutivas de homens e mulheres, que podem ficar inférteis após o fim dos tratamentos.
Antes de dar início à quimio e à radio, homens e mulheres devem ser informados sobre a preservação oncológica da fertilidade: criopreservar seus gametas para que possam ter filhos com segurança, após a recuperação completa de sua saúde.
Toque neste link e saiba mais sobre criopreservação.