Apesar de toda a evolução da ciência, o sonho de ser mãe nem sempre é fácil de realizar, pois com o passar dos anos há uma perda progressiva da reserva ovariana, especialmente após os 40 anos de idade, mas esta pode acontecer também em mulheres mais jovens.
Há casos de não ter óvulos em quantidade e qualidade suficientes para a realização da fertilização in vitro por diversos motivos. Nesta situação, está indicada a recepção de óvulos.
A recepção de óvulos é uma técnica em que uma mulher recebe óvulos produzidos por outra mulher, geralmente com idade inferior a 35 anos, devido a sua própria incapacidade de produzir óvulos ou a baixa qualidade dos óvulos produzidos.
No Brasil, a ANVISA e o Conselho Federal de Medicina permite a recepção de óvulos para mulheres com idade igual ou inferior a 50 anos. Casos excepcionais devem ser avaliados pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), pois deve ser constatada saúde para gestar com segurança acima desta faixa etária.
As principais indicações da ovorecepção são:
- Falência ovariana precoce, também conhecida por menopausa precoce;
- Baixa qualidade dos óvulos: idade avançada;
- Baixa reserva ovariana;
- Ausência dos ovários devido a cirurgia ou mesmo doenças genéticas (ex.: síndrome de Turner);
- Doenças genéticas ou hereditárias em que não é possível identificar o gene relacionado a referida doença para o estudo posterior dos embriões;
- Tratamento oncológico com quimioterapia ou radioterapia pélvica sem prévio congelamento de óvulos;
- Cirurgia nos ovários por endometriose ou tumor benigno que levam a redução significativa da capacidade de ovular;
- Casais homoafetivos masculinos;
- Produção independente masculina.
Passo a passo desse tratamento
1 – Cadastro da paciente que receberá os óvulos
Para iniciar o processo de recepção de óvulos, é necessário que a paciente realize um cadastro em um banco internacional de óvulos, disponível em diferentes países, como Espanha e Argentina. Nesse cadastro, a receptora deve fornecer informações sobre suas características pessoais, histórico médico, desejos e preferências, além de dados de contato e assinatura de um termo de consentimento. Com base nessas informações, o banco de óvulos realiza uma busca em seu banco de dados para identificar uma doadora que possua características físicas semelhantes e compatibilidade sanguínea com a receptora.
2 – Scanner Facial
Para aprimorar esta busca de dados, é realizado um rastreamento através de scanner facial da foto da receptora com o banco de doadoras através da análise de até 12000 pontos. Assim, as características físicas tornam-se muito parecidas, evitando discordância com a receptora.
3 – Avaliação de Critérios
Após a análise facial, o banco de óvulos pode enviar à receptora informações sobre a doadora mais compatível segundo esta análise detalhada, incluindo critérios relevantes, como idade, histórico médico, recém nascido vivo, descrição de altura, peso, cor dos olhos, pele e cabelo. A receptora, então, pode decidir se deseja prosseguir com o tratamento proposto.
Antes da doação, a candidata a doadora passa por uma avaliação médica. Durante esta análise, a equipe verifica a saúde geral, o histórico familiar e o histórico médico, além de realizar testes genéticos para garantir segurança no processo de aquisição de gametas femininos e minimizar o risco para os recém-nascidos oriundos deste tratamento.
4 – Documentação
Após a seleção da doadora, a documentação é preparada para solicitar a transferência dos óvulos adquiridos do banco internacional para o laboratório responsável pela fertilização in vitro (FIV). Essa documentação inclui autorizações, contratos e outras certificações legais.
5 – Fertilização In Vitro
Após coletado o sêmen (também pode ser feito por recepção- aquisição de espermatozoides no banco de sêmen) e a chegada dos óvulos adquiridos, inicia-se o processo de Fertilização in Vitro (FIV). Esse processo envolve a fertilização dos óvulos com espermatozoides em laboratório e a transferência do embrião resultante para o útero da receptora.
O preparo do útero para a posterior transferência dos embriões dura cerca de 10 a 14 dias, envolve o uso de medicações hormonais ou pode ser feito num ciclo natural com ovulação espontânea. De acordo com cada caso, é definida a melhor estratégia para o preparo uterino.
A epigenética e a doação de óvulos
A epigenética é o resultado da influência do ambiente na expressão dos genes. Assim como os hábitos e estilo de vida influenciam no surgimento de doenças na vida adulta, o ambiente uterino também coordena a expressão genética do embrião. Logo, mesmo sem modificar o DNA embrionário, que resulta do DNA do óvulo e do DNA do espermatozoide, a expressão do mesmo é determinada pelo ambiente uterino. Portanto, há influência da mãe que gesta o bebê mesmo que não tenha sido formado com seu próprio óvulo.
Para as mulheres que não podem produzir óvulos de qualidade ou cujos óvulos não são adequados para fertilização in vitro, indicamos a recepção de óvulos.
A recepção de óvulos doados por familiar de até quarto é permitida pela legislação brasileira, desde que a doadora tenha filho e idade de até 37 anos. Este é o único caso em que não há anonimato na aquisição de gametas. É válido considerar os aspectos emocionais envolvidos na doação de gametas com parentesco e impacto futuro no ambiente familiar.
A doação compartilhada entre mulheres que estejam realizando o tratamento no mesmo laboratório de reprodução assistida também é permitida. Contudo, não realizamos o tratamento de recepção de óvulos desta forma, pois priorizamos a tecnologia e os controles e segurança pertinentes aos bancos internacionais.
Embora haja desafios e riscos associados ao processo, muitos casais encontram sucesso na concepção por meio dessa técnica. Antes de tomar uma decisão, juntos discutimos todas as opções, riscos e benefícios.