A produção dos hormônios sexuais, estrogênio e progesterona, ocorre nos ovários, as glândulas sexuais femininas responsáveis pelo armazenamento dos folículos, que contêm os óvulos.
Eles estão localizados na porção superior da cavidade pélvica, um em cada lado do útero. Durante a fase folicular, primeira do ciclo menstrual, diversos folículos crescem, no entanto apenas um se desenvolve, amadurece e rompe, liberando o óvulo que será fecundado pelo espermatozoide, dando origem ao embrião.
A fase folicular inicia no primeiro dia e dura até aproximadamente até o 13º. A ovulação ocorre geralmente no 14º. O processo é estimulado por diferentes hormônios além dos sexuais e ocorre até a menopausa, quando os ovários entram em falência.
Durante a fase fértil, entretanto, diversas condições podem causar alterações nesse processo, levando à ausência de ovulação (anovulação) e, consequentemente, à infertilidade.
A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é a causa mais comum de anovulação e afeta um percentual entre 5% e 10% de mulheres nessa etapa. Para saber como a SOP é diagnosticada e os tratamentos indicados, continue a leitura deste texto.
O que são cistos?
Os cistos são formações preenchidas por líquidos ou substâncias semissólidas, que frequentemente desenvolvem nos ovários durante a fase reprodutiva. Na maioria das vezes são fisiológicos, chamados cistos funcionais. Ou seja, não possuem relação com nenhuma patologia feminina.
Além disso, os cistos ovarianos normalmente também são benignos. Dois exemplos bastante comuns são os foliculares e os lúteos, que se formam durante o ciclo menstrual.
O cisto folicular resulta de folículos que desenvolveram e não romperam para liberar o óvulo. Quando acontece a ovulação, por outro lado, o folículo que abrigava o óvulo transforma em corpo lúteo, responsável pela produção de progesterona, necessária para o espessamento final do endométrio, que vai receber o embrião.
Se a fecundação não ocorrer o corpo lúteo naturalmente regride. Os cistos de corpo lúteo são formados nos casos em que não há regressão.
Além de benignos, os cistos ovarianos geralmente desaparecem naturalmente após um curto período.
O que é síndrome dos ovários policísticos?
A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é a principal condição endócrina nas mulheres em idade reprodutiva. Na SOP, múltiplos folículos tentam desenvolver e crescer. Contudo, há um excesso de folículos recrutados com consequente retardo no desenvolvimento de um folículo adequado para ovulação. Essa alteração leva ao desequilíbrio nos hormônios reprodutivos, resultando em problemas de ovulação, geralmente sinalizados por irregularidades menstruais como ciclos mais longos, aumento ou diminuição do fluxo durante os períodos ou ausência.
Além disso, como consequência do desequilíbrio hormonal, há um aumento da testosterona, principal hormônio masculino produzido também em pequenas quantidades pelo organismo feminino.
A elevação dos níveis de testosterona provoca o aparecimento de traços masculinos, como o crescimento de pelos em locais pouco comuns, incluindo a face e os seios, condição chamada hirsutismo, alterações na pele, entre elas acne e, queda temporária de cabelo (alopecia).
A etiologia da SOP ainda permanece desconhecida. No entanto, diversos fatores podem influenciar o desenvolvimento dos múltiplos cistos. Vários estudos sugerem uma associação com a genética e a obesidade.
A origem genética é justificada pela alta incidência da doença em parentes de primeiro grau das mulheres portadoras, enquanto a obesidade é considerada a principal causa de resistência à insulina (RI), que interfere no desenvolvimento e maturação dos folículos, resultando nos problemas na ovulação e agravando o quadro de hiperandrogenismo.
Quais são os critérios para diagnosticar a SOP?
Por ser uma síndrome, em que os sinais, sintomas e fenômenos ocorrem frequentemente juntos e a presença de um, alerta para a de outro, nenhum critério isolado é suficiente para diagnosticar a SOP, sendo necessário um diagnóstico de exclusão, realizado a partir de diferentes exames, que identificam os cistos e excluem a incidência de outras patologias
Os principais exames realizados são a avaliação da reserva ovariana para determinar a quantidade e qualidade dos folículos com capacidade para ovular, testes hormonais para avaliar os níveis dos hormônios reprodutivos e de imagem, para confirmar a presença dos cistos, avaliar o volume ovariano e excluir a incidência de outras patologias. Geralmente são realizados a ultrassonografia transvaginal e a ressonância magnética (RM).
Após a realização dos exames, outros critérios também devem ser considerados. Eles foram definidos durante o Consenso de Rotterdam, evento que reuniu pesquisadores da área de medicina reprodutiva do mundo todo com o propósito de identificar as lacunas de conhecimento sobre vários aspectos da saúde da mulher relacionados à SOP.
Entre os critérios sugeridos estão os sinais de hiperandrogenismo e os distúrbios de ovulação:
- Distúrbios de ovulação, caracterizados pela oligovulação (ovulação infrequente ou irregular) ou anovulação (ausência de ovulação);
- Sinais clínicos e/ou bioquímicos de hiperandrogenismo;
- Morfologia policística dos ovários – presença de 12 ou mais folículos medindo de 2 mm a 9 mm de diâmetro e/ou volume ovariano acima de 10 cm³ – comprovada por ultrassonografia.
O Consenso também determinou o rastreamento para Síndrome metabólica em mulheres obesas com SOP, condição que aumenta o risco de acidente vascular cerebral, diabetes e doença cardíaca.
Atualmente, após o consenso europeu sobre esse tema em 2018, o diagnóstico de SOP é definido pela irregularidade do ciclo menstrual e alterações hormonais. O exame de ultrassonografia transvaginal não é considerado imprescindível para o diagnóstico de SOP.
Como a SOP é tratada?
Os resultados diagnósticos orientam o tratamento mais adequado para cada paciente, considerando o desejo de gravidez.
Para aliviar os sintomas geralmente são prescritos anticoncepcionais orais e hormônios esteroides de ação antiandrogênica para bloquear os sintomas masculinos. Enquanto um agente sensibilizador é indicado quando há resistência à insulina (RI).
Já para os distúrbios de ovulação é indicada a estimulação ovariana, particularmente importante para as mulheres que estão tentando engravidar. É um procedimento que utiliza medicamentos hormonais para estimular o desenvolvimento e amadurecimento de mais folículos e integra as três principais técnicas de reprodução assistida: relação sexual programada (RSP), inseminação artificial (IA) e fertilização in vitro (FIV). A definição da mais adequada para cada paciente também é embasada nos resultados diagnósticos.
Na RSP e IA, como a fecundação acontece naturalmente nas tubas uterinas, são mais adequadas para mulheres com SOP até 35 anos, que ainda possuam uma boa reserva ovariana e tenham as tubas uterinas saudáveis.
Na FIV, por outro lado, a fecundação ocorre em laboratório. É mais adequada para mulheres com SOP acima de 36 anos, quando já há diminuição da reserva ovariana e para mulheres obesas, independentemente da idade.
Todas as elas aumentam as chances de mulheres com SOP obterem a gravidez.
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