A uretra é uma estrutura presente no aparelho urogenital de homens e mulheres, e sua localização é próxima ou compartilhada com orifícios que dão acesso ao aparelho reprodutivo e à cavidade pélvica. Essa proximidade faz com que eventuais infecções na uretra possam ascender para os órgãos aí localizados, provocando, entre outras coisas, infertilidade.
Nas mulheres, a saída da uretra está acima da abertura vaginal, também envolvida pelos grandes lábios, enquanto nos homens, é compartilhada entre os sistemas urinário e reprodutivo, conduzindo tanto a urina como o sêmen, durante a ejaculação.
Quando as mulheres apresentam infecções que provocam uretrite – inflamação da uretra –, a hipersensibilidade do tecido afetado pode favorecer a ascensão de microrganismos, aumentando o risco para endometrite e salpingite, inflamação do endométrio e das tubas uterinas, respectivamente.
A uretrite pode influenciar diretamente a fertilidade, pois o processo inflamatório tende a provocar alterações no ambiente da uretra, que oferecem risco de danos aos espermatozoides, resultando em infertilidade masculina, ou ascender aos demais órgãos do sistema reprodutivo das mulheres, causando infertilidade feminina.
O tratamento para uretrite é medicamentoso e simples, embora a rapidez com que se diagnostica a doença e se realiza o tratamento sejam determinantes para o sucesso.
O texto a seguir mostra os principais tratamentos disponíveis hoje para as diversas formas de uretrite que acometem homens e mulheres.
Boa leitura!
O que é uretrite?
A uretrite é a inflamação da uretra, provocada principalmente pela ação de microrganismos nessa estrutura, embora também possa ter origem em lesões mecânicas e químicas, como resultado de intervenções cirúrgicas e inserção de sondas, ou do uso de espermicidas.
A inflamação é uma resposta natural do organismo, mediada pela ação do sistema imunológico, que altera o ambiente onde as lesões estão localizadas para potencializar o envio de células de defesa, com o objetivo de combater os agentes agressores.
Entre as principais alterações provocadas pelo processo inflamatório estão o aumento da permeabilidade tecidual, que provoca o inchaço da região adjacente à lesão e a intensificação da vascularização, que facilita a chegada das células imunológicas e acarreta também a elevação da temperatura local.
Quando isso acontece na uretra, o processo inflamatório instala-se no tecido que reveste o interior deste ducto, diminuindo o diâmetro interno e tornando doloroso o processo de micção, em homens e mulheres, além da ejaculação masculina.
Causas e fatores de risco para uretrite
As uretrites são encontradas principalmente em homens e mulheres em idade reprodutiva, sexualmente ativos, que não praticam sexo seguro, fazendo com que o principal fator de risco para seja a atividade sexual sem preservativos de barreira, as camisinhas feminina e masculina.
Isso porque, apesar de também ser resultado de lesões mecânicas e químicas, a maior parte dos casos de uretrite é causada pela ação microbiana, especialmente de agentes envolvidos na contaminação por ISTs (infecções sexualmente transmissíveis).
De forma geral, a uretrite é classificada em gonocócica, quando é provocada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, e não gonocócica, que inclui todos os demais casos, embora a causa mais comum seja a clamídia.
Enquanto a uretrite gonocócica é mais comum em homens, os demais casos não gonocócicos são proporcionalmente distribuídos entre homens e mulheres.
Sintomas e diagnóstico de uretrite
Os sintomas gerais da uretrite são bastante semelhantes em homens e mulheres, e resultam principalmente da interação entre a ação do sistema imunológico e a parasitária, dos microrganismos envolvidos na infecção.
Considerando a posição da uretra e suas funções os principais sinais manifestados nos casos de uretrite são disúria (dor ao urinar) e aumento da frequência urinária, corrimento vaginal e peniano, com cor e odor alterados, dor durante a ejaculação ou nas relações sexuais (dispareunia).
É possível que alguns casos sejam assintomáticos e isso atrase a procura por diagnóstico e tratamento, aumentando as chances de que a infecção se instale em outras estruturas, provocando endometrite e salpingite, nas mulheres, bem como orquite, epididimite e prostatite, nos homens.
O diagnóstico da uretrite é feito principalmente com a abordagem dos sintomas e com a confirmação laboratorial dos microrganismos envolvidos na infecção, realizada pela análise da secreção coletada na glande ou no colo do útero.
Qual a relação entre uretrite e infertilidade?
Nas mulheres, a ascensão dos microrganismos envolvidos na infecção pode afetar o endométrio provocando endometrite e prejudicando a receptividade endometrial, além das tubas uterinas, resultando na formação do líquido característico da hidrossalpinge e, consequentemente, em obstrução tubária.
Enquanto a endometrite pode levar à aborto espontâneo, por impedir a implantação embrionária, a obstrução tubária pode inviabilizar a fecundação e também aumentar as chances de gestação ectópica.
Nos homens, a uretrite prejudica a saúde dos espermatozoides antes mesmo de ascender a outras estruturas, embora de forma mais leve. A alteração do ambiente da uretra, especialmente o aumento da temperatura e a presença das células imunológicas, provoca a morte dos espermatozoides, diminuindo sensivelmente sua concentração no sêmen.
Se a infecção atinge outras estruturas do aparelho reprodutivo, especialmente os epidídimos, pode obstruí-los e impedir que os espermatozoides se juntem aos líquidos glandulares para a formação do sêmen, levando a um quadro de azoospermia obstrutiva.
Quais são os tratamentos disponíveis para uretrite e suas consequências para a fertilidade?
O controle dos sintomas dolorosos pode ser feito com auxílio de medicação analgésica e anti-inflamatória, que diminuem a hipersensibilidade local e os sintomas desencadeados pela resposta inflamatória, principalmente disúria e dor durante a ejaculação e relações sexuais.
O combate aos microrganismos é feito principalmente com antibióticos, quando a uretrite é gonocócica ou não gonocócica bacteriana, com tratamentos prolongados ou em dose única. Os demais microrganismos, especialmente vírus, também devem ser abordados com terapia medicamentosa adequada.
É importante que as parcerias sexuais sejam avaliadas e tratadas de forma preventiva com a medicação antibiótica, e que o casal se abstenha de relações sexuais durante o tratamento.
Reprodução assistida
Apesar de os tratamentos medicamentosos em geral oferecerem alta chance de reversão do quadro temporário de infertilidade, em alguns casos, especialmente quando há demora em buscar atendimento médico, mesmo após a erradicação da infecção os locais parasitados podem exibir cicatrizes.
Dependendo de onde as cicatrizes estão localizadas – principalmente tubas uterinas e epidídimos –, a infertilidade pode ser permanente.
Para esses casos, a reprodução assistida oferece a possibilidade de realizar a fecundação com espermatozoides e óvulos coletados diretamente das glândulas sexuais: nos ovários, por aspiração folicular, e nos testículos, por recuperação espermática.
Essas técnicas, no entanto, somente são aplicáveis à FIV (fertilização in vitro).
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