Sabemos que cerca de 30% dos casos de infertilidade são causados por fatores femininos. Todas as mulheres nascem com uma reserva limitada de óvulos. A primeira menstruação (menarca) marca o início da vida fértil da mulher, período chamado de puberdade. A menopausa determina o fim, quando essa reserva de óvulos se esgota e a mulher não tem mais a possibilidade de engravidar espontaneamente.
O organismo feminino não produz novos óvulos ao longo da vida. Com o aumento da expectativa de vida e as conquistas sociais femininas, a mulher passou a postergar a gravidez e a enfrentar problemas de fertilidade por esse motivo. Dependendo da reserva ovariana e da qualidade dos óvulos, a mulher pode recorrer à ovodoação. Outra possibilidade é fazer a preservação social da fertilidade, que é o congelamento dos próprios óvulos.
A ovodoação ou doação de óvulos é utilizada no contexto das técnicas de reprodução assistida para possibilitar que mulheres inférteis, em virtude de baixa qualidade ou baixa reserva de óvulos, possam gerar seus próprios filhos.
Existem muitos recursos desenvolvidos pela medicina reprodutiva que oferecem aos casais a possibilidade de ter um filho, mesmo em situações graves de infertilidade. Procure um especialista caso esteja enfrentando essa dificuldade. Oferecemos todo o apoio necessário aos pacientes nesse momento delicado.
Neste texto, vamos abordar a regulamentação da doação de óvulos no Brasil, quando ela pode ser indicada e como é feito o procedimento de doação em si.
Regulamentação
No Brasil, a ovodoação é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que atualiza periodicamente as regras e as normas éticas para a reprodução assistida.
Algumas regras importantes são:
- A doação não poderá ter caráter lucrativo ou comercial;
- Os doadores não devem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa, exceto na doação de gametas ou embriões para parentesco de até 4º (quarto) grau, de um dos receptores (primeiro grau: pais e filhos; segundo grau: avós e irmãos; terceiro grau: tios e sobrinhos; quarto grau: primos), desde que não incorra em consanguinidade;
- A idade limite para a doação de óvulos é de 37 anos para a mulher;
- Deve ser mantido, obrigatoriamente, sigilo sobre a identidade dos doadores, bem como dos receptores, a não ser em caso de doação para parentesco de até 4º grau;
- É permitida a importação de óvulos quando não há disponibilidade no banco nacional.
Essas determinações são fundamentais para que a técnica seja realizada de maneira segura e ofereça boas taxas de sucesso. Conforme a mulher envelhece, a qualidade dos óvulos e a reserva ovariana diminuem. Quando ela atinge os 35 anos, essa perda de qualidade e quantidade torna-se acentuada.
Considerando essas regras e os tipos de problemas que podem levar à infertilidade, a ovodoação tem indicações específicas.
Indicações
Avaliamos cada caso individualmente para propor a melhor conduta de tratamento da infertilidade. A ovodoação é indicada, geralmente, nos seguintes casos:
- Mulheres com baixa qualidade de óvulos;
- Mulheres com baixa reserva ovariana;
- Mulheres com falência ovariana precoce;
- Casais homoafetivos masculinos;
- Homens que busquem a produção independente.
Casais homoafetivos masculinos, assim como homens que buscam a produção independente, podem recorrer às técnicas de ovodoação e cessão temporária de útero para ter seu filho com o auxílio da fertilização in vitro (FIV).
Nesse caso, um dos parceiros cede seus espermatozoides para o procedimento. Depois da escolha dos óvulos, é feita a fecundação em laboratório, formando os embriões. Esses embriões então, depois de se desenvolverem no laboratório, são transferidos para a mulher que cederá o útero para a gravidez e que levará a gestação até o nascimento da criança.
Como é feito o procedimento
A doação de óvulos é um pouco mais complexa que a doação de espermatozoides. Os óvulos ficam nos ovários, localizados na pelve feminina. São necessárias a estimulação ovariana (para que um número maior de óvulos possa ser coletado) e a punção folicular, que constituem as etapas iniciais de qualquer processo de FIV.
Nem todas as mulheres podem doar óvulos. Além de atender às regras determinadas pelo CFM, a mulher deve estar saudável e com boas condições de fertilidade. O objetivo também é potencializar as chances de sucesso de gravidez da receptora.
Para isso, são necessários exames específicos de avaliação da qualidade dos óvulos e da reserva ovariana.
O procedimento é realizado nas seguintes etapas:
- Estimulação ovariana: essa é a primeira etapa da doação e consiste na administração do hormônio folículo-estimulante (FSH) por cerca de 10 dias para estimular o ovário a produzir um número maior de óvulos – esse número pode variar significativamente de mulher para mulher;
- Controle da ovulação por ultrassonografia: o crescimento dos folículos após a estimulação é acompanhado por ultrassonografia, realizada em geral a cada dois dias. Quando os folículos atingem cerca de 20 mm de diâmetro, é administrado na doadora o hormônio hCG, cuja função é provocar o amadurecimento dos óvulos contidos nos folículos ovarianos;
- Punção folicular: cerca de 35 horas após a administração do hCG, é feita a retirada do líquido contido neles, no qual ficam os óvulos – esse procedimento é feito com o auxílio de uma agulha e de forma indolor, pois a paciente é anestesiada;
- Congelamento dos óvulos: os óvulos coletados podem ser mantidos por tempo indeterminado em criopreservação.
A ovodoação leva cerca de 15 dias para ser concluída. Portanto, a doadora precisa ter disponibilidade para realizar todo o procedimento.
Se você pensa em doar óvulos, procure uma clínica de reprodução assistida. Você receberá toda a orientação necessária.