O teste de receptividade endometrial (ERA) é um teste genético que identifica o momento mais propício (janela de implantação) à nidação, ou seja, à implantação ou fixação do embrião no endométrio para início da gravidez. Em alguns casos, a mulher tem a janela de implantação deslocada, que não está sincronizada com o momento da transferência embrionária, levando a falhas de implantação.
O resultado do exame indica quando o endométrio está mais receptivo à fixação do embrião. Portanto, esse é o melhor momento para transferir os embriões para o útero em um ciclo de fertilização in vitro (FIV), reduzindo os riscos de falha de implantação, um dos fatores mais relevantes no tratamento da infertilidade.
A implantação ou fixação do embrião no endométrio é chamada nidação e ocorre aproximadamente no 5o dia após a fecundação. O espermatozoide chega ao óvulo ainda na tuba uterina e o fecunda. O zigoto, resultado inicial da fecundação, continua seu caminho até o útero. Nesse trajeto, inicia o processo de divisão celular, chamado clivagem. Nos dias subsequentes, o embrião desenvolve-se até o estágio de blastocisto e chega ao útero.
Na cavidade uterina, inicia o processo de implantação, desde que o endométrio seja considerado receptivo. Caso haja alguma alteração durante o desenvolvimento endometrial, o embrião não interage com o revestimento interno uterino e a gravidez não ocorre.
O ERA é um exame que identifica quando o endométrio está preparado adequadamente para receber o embrião, definindo a estratégia de transferência nos ciclos de FIV.
Neste texto, vamos abordar as indicações do teste, como é feito e os possíveis resultados e como ele pode melhorar os resultados da FIV.
Indicações
As indicações do ERA são bastante específicas:
- Para casais que, em tentativas anteriores de tratamento de FIV, apresentaram falha de implantação com embriões de alta qualidade;
- Para prevenção de falhas de implantação por outros fatores, que podem ser identificados durante a investigação da infertilidade do casal.
Se os embriões não apresentam qualidade, o fracasso da gravidez pode não estar associado com a receptividade endometrial.
Estima-se que 30% das pacientes apresentem janela de implantação deslocada, sendo necessária a personalização do momento da transferência do embrião no ciclo de FIV.
Como é realizado o ERA
O ERA pode ser realizado em tratamento de FIV com embriões criopreservados.
A investigação da receptividade endometrial é feita por biópsia do endométrio durante um ciclo de preparo artifi cial do endométrio para posterior transferência. Esse procedimento é feito em consultório médico, indolor ou levemente desconfortável para a paciente.
Inicialmente, após o início da menstruação, é administrado hormônio (estrogênio) para promover o espessamento endometrial. Quando o endométrio atinge a espessura adequada, é introduzido um segundo hormônio, a progesterona. Nessa ocasião, simulando a data de uma suposta transferência embrionária, é realizada a biópsia. Esse procedimento consiste na retirada de um pequeno fragmento endometrial, que é enviado para análise.
O laboratório especializado analisa 248 genes envolvidos no preparo do endométrio para determinar o momento mais propício à implantação, denominada de janela de implantação.
Os resultados são disponibilizados em 10 dias. Portanto, após a biópsia, podemos aguardar o sangramento vaginal e reiniciar o preparo com hormônios. Assim, teremos tempo hábil para o resultado e manejo da janela de implantação, com transferência embrionária cerca de 2 semanas após a biópsia e análise do ERA.
Os tipos de resultados são: receptivo e não receptivo. Caso o endométrio não seja considerado receptivo, há indicação de pré ou pós-receptivo para a orientação do próximo ciclo de preparo endometrial, com informação sobre o período necessário do uso da progesterona.
Quando o endométrio está “pré-receptivo”, a administração de progesterona deve ser mais prolongada, para que o endométrio se torne receptivo no momento da transferência dos embriões.
Quando o endométrio está “pós-receptivo”, a administração de progesterona deve ser por menor período, para que o endométrio se torne receptivo no momento da transferência dos embriões.
Normalmente, os ajustes sugeridos pelo ERA do período de administração de progesterona são de apenas algumas horas. Com essa adequação de progesterona, conseguimos minimizar o insucesso do tratamento devido a falhas de implantação.
O ERA e a FIV
A FIV é a técnica de reprodução assistida que oferece os melhores recursos e as maiores taxas de sucesso. Suas etapas são:
- Estimulação ovariana e indução da ovulação;
- Punção ovariana e coleta dos espermatozoides;
- Fecundação dos óvulos;
- Cultivo embrionário;
- Transferência embrionária;
- Se houver embriões excedentes, faz-se o congelamento.
Na etapa de transferência embrionária, algumas condições favorecem o êxito do procedimento. Uma dessas condições é o preparo endometrial. O endométrio precisa estar receptivo para receber o embrião. Ao longo do ciclo menstrual, há ação de hormônios que promovem o espessamento endometrial. Caso haja algum distúrbio nesse processo, pode haver uma falha de implantação.
Os resultados do ERA auxiliam no preparo endometrial para aumentar as chances de sucesso da FIV.