A busca por informações sobre questões reprodutivas, partindo de pessoas não especialistas – principalmente os casais tentantes e as pessoas que receberam recentemente diagnóstico de infertilidade –, pode causar pequenas confusões, especialmente com relação a alguns termos técnicos utilizados para explicar os processos envolvidos com a reprodução humana.
Um bom exemplo deste tipo de equívoco pode ser observado no fato de que muitas pessoas utilizam os termos “folículos” e “óvulos” como sinônimos, ambos referindo-se às células reprodutivas das mulheres.
Ainda que óvulos e folículos não sejam sinônimos, sua relação é de fato bastante próxima – o que pode justificar esses erros conceituais – e ambos estão envolvidos na dinâmica de formação e liberação das células reprodutivas das mulheres, mas de formas diferentes.
Neste texto, esclareço o significado desses termos técnicos, melhorando, com isso, também a compreensão sobre os processos reprodutivos das mulheres, o que é bastante interessante principalmente para as tentantes e também para as mulheres com diagnóstico de infertilidade que desejam engravidar em curto prazo.
O que são folículos ovarianos?
Os folículos são na realidade um envoltório que contém em seu interior a célula reprodutiva feminina, chamada tecnicamente de oócito.
Esses envoltórios são formados por dois tipos celulares diferentes – as células da teca e as células da granulosa –, com funções diferentes e que chegam a ser bastante numerosas, especialmente em determinadas fases do ciclo reprodutivo.
Uma das principais funções dos folículos é isolar os oócitos uns dos outros, para que, durante o processo de amadurecimento folicular, não haja risco de ovulações múltiplas, que podem aumentar as chances de gestação gemelar – popularmente conhecida como gravidez de gêmeos.
Outra função importante atribuída às células foliculares é a interação com as gonadotrofinas, a partir de receptores para esses hormônios, que estão localizados nas membranas dos dois tipos celulares que compõem os folículos.
Na realidade, boa parte da ação gonadotrófica nos ovários deve-se a essa interação, fazendo das células foliculares algumas das principais estruturas envolvidas na produção de testosterona, estrogênio e progesterona, fundamentais para que todos os eventos do ciclo reprodutivo aconteçam.
Bioquimicamente, o LH (hormônio luteinizante), produzido pela hipófise, induz as células foliculares da teca a produzirem testosterona, enquanto o FSH (hormônio folículo-estimulante) atua principalmente sobre as células foliculares da granulosa, que realizam a conversão dessa testosterona em estrogênio.
Durante a ovulação, o pico de gonadotrofinas e estrogênio provoca o rompimento do folículo para liberação do oócito contido em seu interior, e as células foliculares que restaram permanecem durante algum tempo nos ovários, formando o que chamamos de corpo-lúteo.
Uma das principais funções do corpo-lúteo é produzir progesterona, hormônio que atua também na preparação endometrial, assim como os estrogênios, para receber um embrião caso a fecundação aconteça após a ovulação.
Assim, podemos resumir a função dos folículos ovarianos na proteção e isolamento dos oócitos, e também como estruturas que participam ativamente da dinâmica hormonal, responsável por viabilizar todo o ciclo reprodutivo.
O que são os óvulos?
Óvulo é o termo utilizado popularmente para designar a célula reprodutiva feminina – ainda que tecnicamente esta denominação esteja também equivocada, já que o nome correto da célula reprodutiva é oócito. O termo óvulo é mais adequado para designar um estágio bastante transitório, relacionado ao momento que o espermatozoide penetra o meio intracelular do oócito durante a fecundação.
Contudo, vamos utilizar o termo óvulo como sinônimo de oócito.
A formação dos óvulos tem início ainda durante a embriogênese, quando todas as células reprodutivas primordiais da mulher são formadas nas proximidades da crista gonadal, assim como as demais estruturas do sistema reprodutivo feminino.
Interessante mencionar que o ovário é formado a partir da aglutinação das células reprodutivas primordiais em regiões específicas do embrião feminino, sendo por isso constituído primariamente pela união dessas células.
Outra informação interessante reside no fato de que todas as células reprodutivas disponíveis para uma mulher ao longo de sua vida são formadas durante essa fase da embriogênese. Após o nascimento, a mulher é incapaz de produzir novas células reprodutivas, podendo contar apenas com o estoque formado no período pré-natal.
Esse estoque é chamado tecnicamente de reserva ovariana, que é consumida pela mulher ao longo de sua vida, principalmente pelos processos ovulatórios a cada ciclo reprodutivo, até que no período da menopausa a vida reprodutiva da mulher, assim como sua reserva ovariana, chegam ao fim.
Afinal, quais as diferenças entre folículos e óvulos?
De forma resumida, podemos dizer que enquanto os óvulos são constituídos por uma única célula e são a própria célula reprodutiva das mulheres, os folículos ovarianos são estruturas multicelulares que contêm em seu interior cada um dos óvulos.
Como essas estruturas estão relacionadas com a fertilidade feminina?
A relação que folículos e óvulos mantêm com a fertilidade das mulheres é bastante direta: a integridade dessas estruturas e de suas funções é fundamental para que a fecundação ocorra – ao lado de aspectos que abrangem a integridade funcional e anatômica das outras estruturas do sistema reprodutivo feminino, como o útero e as tubas uterinas.
Qual a importância dos folículos e óvulos para a reprodução assistida?
As três principais técnicas de reprodução assistida têm uma etapa inicial em que os folículos e óvulos são centrais para os procedimentos desenvolvidos: a estimulação ovariana.
A estimulação ovariana consiste em utilizar medicamentos hormonais, semelhantes às gonadotrofinas LH e FSH, com o objetivo de aumentar o número de óvulos disponível e induzir os processos ovulatórios.
Essa etapa também pode potencializar esses mesmos processos, quando as dificuldades para engravidar são mais leves e devem-se a um quadro de oligovulação.
A principal diferença entre as etapas para cada uma das técnicas de reprodução assistida está nos protocolos para determinação das doses hormonais, utilizados de forma diferente em cada técnica. Esses protocolos refletem também os objetivos que essa etapa tem para cada um dos procedimentos, como falaremos a seguir.
Os protocolos utilizados pela RSP (relação sexual programada) e pela IA (inseminação artificial), técnicas consideradas de baixa complexidade, devem proceder com doses hormonais mais baixas, com o objetivo de recrutar de 1 a 3 folículos ao crescimento e liberação dos óvulos.
Isso acontece porque, nesses procedimentos, espera-se que a fecundação ocorra nas tubas uterinas, como acontece por vias naturais, e a liberação de múltiplos óvulos pode ser inconveniente e aumentar os riscos de gestação múltipla.
A FIV (fertilização in vitro), no entanto, utiliza protocolos com dosagens maiores justamente porque seu objetivo é obter um número muito maior de óvulos. Não há um limite.
O principal motivo para isso reside no fato de que essas células devem ser selecionadas, após a coleta de gametas, e o número maior de folículos ovarianos aumenta também as chances de que a técnica consiga produzir embriões melhores.
Outra informação interessante é que na FIV a coleta de gametas é realizada por aspiração folicular. O procedimento recolhe o líquido que fica no interior dos folículos e envolve o óvulo.
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