A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é considerada o distúrbio endócrino mais comum em mulheres em idade reprodutiva e a principal causa de infertilidade por anovulação (ausência de ovulação).
Embora a SOP apresente uma prevalência que varia de 5% a 10% em mulheres entre 15 e 44 anos, a maioria descobre a doença quando tem problemas para engravidar. Entretanto, qualquer mulher, independentemente da etnia, pode desenvolvê-la após a puberdade.
O risco é ainda maior em mulheres obesas ou quando há casos relatados de incidência na família – mãe, irmã ou tia –, uma vez que fatores genéticos estão entre as causas que podem provocar o seu desenvolvimento.
Vou explicar, neste artigo, tudo sobre a síndrome dos ovários policísticos, dos sintomas ao diagnóstico e tratamento.
O que é a síndrome dos ovários policísticos (SOP)?
Descrita pela primeira vez em 1935, a SOP pode ser definida como um distúrbio heterogêneo, com múltiplas complexidades reprodutivas, estéticas e metabólicas, que se caracteriza por disfunção na ovulação e hiperandrogenismo – produção excessiva de hormônios andrógenos, como a testosterona –, além da presença de morfologia ovariana policística.
Causa o aumento do tamanho dos ovários e o desenvolvimento de múltiplos cistos pequenos na parte externa deles (ovários policísticos), que apresentam uma diversidade de sinais e sintomas relacionados à disfunção ovariana.
Ao mesmo tempo, a alteração hormonal provocada pelo hiperandrogenismo estimula o surgimento de vários traços masculinos, entre eles o crescimento de pelos em locais pouco comuns, como a face, por exemplo, chamado hirsutismo.
Se não for adequadamente tratada, pode, ainda, causar problemas na saúde metabólica a longo prazo, contribuir para o desenvolvimento de doenças, como o diabetes tipo 2 e estados de depressão, assim como aumentar o risco de câncer de ovário e endométrio.
O que provoca a SOP e quais são os sintomas?
Mesmo que a causa exata da SOP não seja conhecida, alguns fatores desempenham um papel importante para o desenvolvimento dela:
Resistência à insulina: a insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que tem como função metabolizar a glicose para gerar energia. A resistência à insulina eleva os níveis de açúcar no sangue e, consequentemente, a sua produção. Em excesso, ela também aumenta os hormônios andrógenos, causando dificuldades na ovulação.
Inflamação de baixo grau: um tipo de inflamação de baixo grau, presente nas mulheres com SOP, estimula os ovários policísticos a produzirem andrógenos, o que pode provocar problemas cardíacos e vasculares.
Genética: diferentes pesquisas sugerem maior probabilidade para o desenvolvimento da doença em mulheres que possuem mães, irmãs ou tias afetadas por ela, se comparadas com as que não possuem.
Principais sintomas da SOP
Além da presença de múltiplos cistos nos ovários, os principais sintomas da síndrome dos ovários policísticos são:
- Aumento do volume ovariano;
- Ausência ou irregularidade da menstruação;
- Ausência de ovulação (anovulação);
- Aumento de peso;
- Aparecimento de acne;
- Hirsutismo (crescimento de pelos no rosto e outros locais do corpo);
- Queda de cabelo;
- Resistência à insulina (RI);
- Problemas com a fertilidade;
- Transtornos emocionais, tais como ansiedade e depressão.
Irregularidades menstruais do tipo amenorreia – ausência de fluxo menstrual – ou oligomenorreia – menstruação com frequência anormal, em intervalos de mais de 35 dias – são sintomas que indicam anovulação, principal consequência da SOP. Em casos mais graves, pode haver ainda sangramento uterino disfuncional e infertilidade.
A obesidade também é um fator de risco. Cerca de 50% das mulheres com SOP são portadoras da doença.
Como a SOP é diagnosticada?
O diagnóstico da SOP é feito de acordo com os Critérios de Roterdã. No entanto, desde o consenso original, já foram feitas algumas alterações, portanto a interpretação médica, considerando diversos dados clínicos, é fundamental para o diagnóstico.
O Critério de Roterdã estabelece que o diagnóstico seja feito quando dois destes três sintomas estiverem presentes:
- Oligovulação (ovulação infrequente ou irregular) ou anovulação (ausência completa de ovulação);
- Sinais clínicos e/ou bioquímicos de hiperandrogenismo, após a exclusão de outras causas, como aumento dos pelos, ou a presença deles em locais típicos do sexo masculino, queda de cabelos, calvície temporal e acne.
- Morfologia policística dos ovários – existência de 12 ou mais folículos medindo de 2 mm a 9 mm de diâmetro e/ou volume ovariano acima de 10 cm3 – comprovados por ultrassonografia. Esse critério já não é mais fundamental para o diagnóstico.
O sintoma mais relatado e evidente de SOP é o hiperandrogenismo, provocado pelo aumento das taxas de testosterona no organismo.
Exames realizados para diagnosticar a SOP
Entre os exames necessários para diagnosticar a SOP estão os testes de hormônios femininos, utilizados para avaliar a fertilidade e os distúrbios hormonais, tais como FSH, LH, progesterona, estradiol e prolactina.
Após excluídas as outras causas, é indicada uma ultrassonografia, para examinar os ovários e identificar cistos. Se for confirmado o diagnóstico de SOP, exames complementares estão indicados, entre eles perfil lipídico e glicemia, para avaliar possíveis complicações, como diabetes e doença cardiovascular.
Quais são as possibilidades de tratamento para a SOP?
Para que seja definido o tratamento, devem ser avaliados a evolução da doença, os quadros clínico e laboratorial da paciente, assim como as suas necessidades. Os medicamentos incluem anticoncepcionais orais e hormônios esteroides de ação antiandrogênica, ou seja, capazes de bloquear ou inibir os sintomas masculinos.
Quando há sintomas ou alterações laboratoriais relacionadas à resistência insulínica, geralmente é adotado um agente sensibilizador, que, além de melhorar a sensibilidade, também ajuda a reduzir os sinais de hiperandrogenismo e a irregularidade menstrual.
As mulheres que são portadoras de obesidade e desejam engravidar podem optar pela indução da ovulação – estimulação dos ovários por medicamentos. As taxas de sucesso do procedimento são de até 80%, embora apenas 20% das mulheres consigam engravidar.
Nesse caso, técnicas de reprodução humana assistida (TRA), entre elas a fertilização in vitro (FIV), são as mais indicadas para as mulheres com ovários policísticos que pretendem engravidar.
Mudanças no estilo de vida, como a adoção de exercícios físicos e uma reeducação alimentar, são fundamentais para o sucesso do tratamento. A perda de peso em pacientes obesas, por exemplo, pode restaurar a ovulação e a regularidade menstrual, além de diminuir a resistência à insulina e a testosterona total.
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