Trombos são coágulos de sangue em vasos que provocam obstruções. A trombofilia é uma doença que causa uma alteração na capacidade de coagulação sanguínea, gerando uma predisposição para o desenvolvimento de trombos, processo denominado trombose, o que aumenta o risco de obstrução dos vasos sanguíneos.
A causa da trombofilia está relacionada a uma deficiência na ação das proteínas, que têm a função de atuar na coagulação do sangue.
A trombofilia aumenta o risco de trombose venosa, arterial, embolia pulmonar, AVC, abortos de repetição, parto prematuro, pré-eclâmpsia, entre outras doenças que podem ser desencadeadas em decorrência de problemas circulatórios.
Por se tratar de uma doença de alto risco, a pessoa deve ficar atenta aos primeiros sintomas que surgirem, para que seja possível reverter a situação. Os sintomas estão relacionados principalmente ao local da trombose.
Neste texto, vamos abordar as características da trombofilia, os fatores de risco, a trombofilia durante a gravidez, como investigar e diagnosticar a doença, os sintomas e os tratamentos.
Características da trombofilia e fatores de risco
A trombofilia pode ser hereditária, ou seja, transmitida geneticamente de geração para geração, ou adquirida ao longo da vida. Quando adquirida, ela é caracterizada por uma alteração no sistema imunológico do organismo, que passa a produzir anticorpos contra ele mesmo. Esses anticorpos afetam as paredes dos vasos sanguíneos, aumentando o risco de trombose.
A trombose também pode ser causada por outros fatores além da trombofilia, como obesidade (pelo acúmulo de gordura nos vasos sanguíneos), tabagismo (danificam a camada interna dos vasos, provocando obstrução), sedentarismo (por falhas no sistema circulatório), uso de hormônios (o estrogênio causa alteração na coagulação sanguínea), cirurgias (pela redução da capacidade de movimentação) e a gravidez, até 60 dias depois do parto. Todos esses são fatores de risco de trombose.
Trombofilia durante a gravidez
O risco de trombose aumenta naturalmente durante a gravidez em virtude de um estado de hipercoagulabilidade do sangue da mãe, necessário para o controle da hemorragia durante e depois do parto.
Muitas mulheres portadoras de trombofilia descobrem a doença após alguma complicação durante a gestação, pois nesse período é maior o risco de produzir trombos, que podem obstruir vasos da placenta e ocasionar abortos de repetição, óbito fetal, descolamento prematuro de placenta, hipertensão arterial (pressão alta) na gravidez, entre outros problemas.
Embora o risco seja maior, não são todas as pacientes portadoras de trombofilia que desenvolvem trombose. Para que a trombose aconteça, é necessário que dois ou mais fatores de risco estejam presentes.
Investigação da trombofilia
Pesquisar o histórico da paciente é fundamental para que seja feita a investigação de trombofilia. Essa investigação está indicada caso a mulher apresente histórico pessoal ou familiar de:
- Infarto do miocárdio, AVC (derrame) ou trombose antes dos 50 anos de idade;
- Dois ou mais abortos espontâneos ou um caso de natimorto;
- Casos de pré-eclâmpsia grave, principalmente em grávidas com menos de 32 semanas de gestação;
- Descolamento prematuro de placenta;
- Óbito fetal anterior (morte do bebê dentro do útero);
- Parto prematuro anterior associado com envelhecimento precoce da placenta;
- Gestação anterior com crescimento inadequado do bebê durante a gravidez;
- Familiar com trombofilia hereditária.
Nesses casos, deve ser feito o acompanhamento especializado.
Diagnóstico
O diagnóstico é realizado mediante uma complexa investigação laboratorial, orientada pelas características da paciente.
Os exames realizados no sangue são:
- Anti Beta 2 glicoproteína 1;
- Anticorpo anticardiolipina Ig M e IgG;
- Anticoagulante lúpico;
- Homocisteína;
- Mutação G20210A no gene da protrombina;
- Mutação do Fator V (Fator V de Leiden);
- Proteína C funcional;
- Proteína S funcional;
- Antitrombina III;
- Polimorfismo 4G/5G no gene inibidor do ativador do plasminogênio (Polimorfismo do PAI-1).
Outros exames podem ser solicitados se os resultados desses exames não forem suficientes para definir o diagnóstico e a suspeita de trombofilia permanecer.
Tratamento
O tratamento da trombofilia tem o principal objetivo de prevenir a trombose e é feito com medicamentos anticoagulantes, que controlam a coagulação e evitam a formação dos trombos. A via de administração é injetável, subcutânea, com aplicação diária e com dose individualizada para cada paciente, de acordo com o tipo de trombofilia e peso da paciente.
O risco de trombose durante a gravidez é maior. No entanto, se a gestante for tratada de forma adequada e acompanhada por médico especializado na patologia, o risco de complicações é baixo. As medicações são utilizadas geralmente do início da gravidez – ou após a ovulação – até um dia antes do parto, quando são interrompidas. Devem ser reiniciadas de 6 a 12 horas após o parto e mantidas por cerca de 40 dias.
Para as mulheres em tratamento de fertilização in vitro (FIV), o uso de anticoagulantes deve ser iniciado 24 horas após a coleta dos óvulos ou dois dias antes da transferência dos embriões.
O tratamento medicamentoso deve ser acompanhado de outras medidas preventivas. A paciente deve manter o controle do peso, uma dieta saudável e fracionada a cada 3 horas; praticar exercícios físicos regulares pelo menos três vezes por semana, evitar o tabagismo e utilizar meias elásticas de média compressão.
Antes de realizar atividade física, é importante fazer uma avaliação médica para dimensionar qual a carga de exercícios poderá ser utilizada.