O útero é um órgão de aproximadamente 7 centímetros (fora das gestações) com formato semelhante a uma pera invertida. Ele é responsável por abrigar o feto durante a gravidez, fornecendo um ambiente favorável para o seu desenvolvimento. Por isso, alterações uterinas, como as sinequias uterinas, podem causar dificuldade para engravidar e abortamentos recorrentes.
Diferentes condições ginecológicas podem afetar negativamente a função do útero. Por exemplo, existem condições congênitas (presentes desde o nascimento), como as anomalias estruturais, em que a mulher nasce com um útero em forma diferente da normal. O útero também pode ser acometido por condições adquiridas, como a doença inflamatória pélvica e a endometrite, que são infecções.
Essas e outras doenças podem causar consequências que prejudicam a fertilidade. Uma dessas sequelas são as sinequias uterinas, que são formações de tecido cicatricial que se aderem ao útero e dificultam diversos aspectos de sua funcionalidade. Quer saber mais sobre as sinéquias uterinas? Acompanhe até o final!
O que são sinequias uterinas?
Sinequias intrauterinas são pontes de tecido cicatricial que se formam no útero. Elas se formam geralmente em decorrência de uma inflamação na pelve, que pode ser causada por condições, como:
* Doença inflamatória pélvica, que é uma infecção subaguda ou crônica do colo uterino, do endométrio uterino e das tubas uterinas;
* Endometrite, que é uma infecção restrita ao endométrio;
* Traumas ocorridos em procedimentos intrauterinos, como a curetagem;
* Endometriose, que não acomete diretamente o útero. Contudo, dependendo da gravidade, a inflamação pélvica pode ser expressiva e provocar a formação de sinequias intrauterinas.
As sinequias surgem devido ao mecanismo de inflamação e reparação do organismo. Quando o sistema imunológico identifica uma lesão ou uma infecção, ele envia células inflamatórias para tentar proteger o local afetado. A inflamação, contudo, destrói tanto o tecido doente quanto o tecido lesionado. Por isso, depois do processo inflamatório, o corpo envia células de cicatrização, que produzem colágeno e fatores de crescimento.
Em processos inflamatórios prolongados ou intensos, a cicatrização pode ser exagerada. Com isso, é produzido um excesso de colágeno. Essa proteína tem a capacidade de formar fibras, que se tornam cada vez mais rígidas caso o processo cicatricial não se resolva.
Imagine algo como uma “teia de aranha” como analogia às traves que se formam na cavidade uterina. Essas traves (sinequias) podem ser mais frouxas ou mais fibrosas e podem ser removidas cirurgicamente.
O que é síndrome de Asherman?
A presença de pontes cicatriciais pontuais no útero (sinequias isoladas), por si só, não é um fator capaz de comprometer a fertilidade feminina. O problema ocorre quando há a presença significativa de sinequias a ponto de prejudicar a função uterina. Quando isso ocorre, chamamos o quadro de síndrome de Asherman. A síndrome de Asherman pode provocar sintomas, como:
* Amenorreia, que a ausência de menstruação em um período em que ela era esperada;
* Sangramento uterino com fluxo reduzido;
* Infertilidade;
* Abortos de repetição;
* Dismenorreia (dor pélvica cíclica).
Qual a relação da síndrome de Asherman e das sinequias uterinas com a infertilidade?
Nos casos de síndrome de Asherman, as sinequias uterinas prejudicam diversos processos reprodutivos. Após a ejaculação do sêmen do homem na vagina, os espermatozoides precisam percorrer um longo trajeto até encontrar o óvulo em uma das tubas uterinas.
Eles precisam passar pelo orifício interno do colo do útero (transição do colo do útero para a cavidade uterina), pela cavidade uterina, pelo óstio tubário (passagem da cavidade do útero para as tubas uterinas) e pela primeira porção da tuba uterina. As sinequias podem obstruir diversas partes desse trajeto dos espermatozoides, dificultando a fertilização.
Mesmo que o espermatozoide consiga fertilizar o óvulo e formar o embrião, outros problemas podem dificultar uma gestação viável. Afinal, o embrião precisa ser transportado até a cavidade uterina para se desenvolver de forma adequada. Ele também enfrentará as obstruções e pode não alcançar o útero no momento certo.
Mesmo que chegue ao útero, o embrião enfrentará um ambiente hostil, pois a síndrome de Asherman prejudica a receptividade do endométrio. Consequentemente, o embrião pode não conseguir se implantar e se fixar no endométrio do útero. Por fim, mesmo que a implantação ocorra, as aderências podem fazer com que a cavidade do útero não se expanda adequadamente, dificultando o desenvolvimento do embrião.
Portanto, a síndrome de Asherman provoca problemas em diversas etapas do processo reprodutivo. Já as chances de as aderências provocarem infertilidade dependem de algumas características:
* Densidade: as aderências podem apresentar desde fibras tênues e delgados até fibras densas. Quanto mais densas são as fibras, maior o comprometimento dos processos férteis e gestacionais;
* Rigidez: quanto mais difícil for o rompimento de uma aderência, maiores são as chances de elas provocarem infertilidade, pois isso prejudica os processos de expansão normal do útero em uma gestação;
* Extensão da cavidade uterina acometida: quanto mais porções do útero estiverem com aderências, mais difícil é o processo de fertilização.
A partir desses fatores, a síndrome de Asherman pode ser classificada em mínima, moderada ou grave.
O tratamento da infertilidade causada pela síndrome de Asherman dependerá da classificação de gravidade e da avaliação de outros fatores de infertilidade do casal. Em geral, recomenda-se a destruição cirúrgica das sinequias uterinas. Depois disso, o casal pode buscar técnicas de reprodução assistida, como a inseminação intrauterina e a fertilização in vitro.
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