As tubas uterinas são duas estruturas tubulares que compõem o sistema reprodutivo feminino e cuja função é transportar os óvulos liberados pelos folículos ovarianos até o útero. Estão localizadas na região lateral superior do útero, uma à esquerda e a outra à direita, e suas extremidades estão próximas de cada um dos ovários.
Quando há fecundação, ela ocorre normalmente dentro das tubas uterinas e o zigoto é transportado através dessas estruturas até o útero, onde ocorre a implantação embrionária, que dá início a gestação.
Quando não há fecundação, também é nas tubas uterinas que o óvulo é reabsorvido, no período entre a ovulação e o início da menstruação. Portanto, não é verdadeira a informação de que o óvulo é eliminado na menstruação. O sangramento menstrual é exclusivamente formado pelo endométrio, revestimento interno da cavidade uterina.
Por suas funções a perfeita integridade das tubas uterinas é fundamental para a preservação da fertilidade nas mulheres e doenças que afetam essas estruturas podem causar infertilidade por obstrução, dificultando ou impedindo o encontro entre óvulo e espermatozoide e, consequentemente, a fecundação e a gestação.
As cirurgias de laqueadura tubária, que provocam um quadro proposital de infertilidade permanente, são feitas com a interrupção da trajetória das tubas, ainda que possam ser revertidas.
Nela, a ovulação e amadurecimento folicular não deixam de ocorrer, porém o óvulo nunca chega ao útero, estando permanentemente indisponível para a fecundação.
Algumas doenças como a endometriose tubária e a hidrossalpinge, bem como os carcinomas que aí se desenvolvem, levam à formação massas celulares cujo tamanho ou o processo inflamatório desencadeado por sua existência podem obstruir as tubas uterinas, e prejudicar a fertilidade feminina.
Um dos exames solicitados para a investigação dessas obstruções tubárias e suas especificidades é a histerossalpingografia, um exame de raio-X com contraste à base de iodo, que permite a observação detalhada da anatomia interna uterina e tubária.
O uso de contraste iodado está contraindicado para pacientes alérgicos a peixes e moluscos. Informe seu médico caso tenha esta intolerância alimentar.
Em alguns casos este pode ser um exame doloroso, mas o uso de anestésicos locais não interfere nos resultados finais da histerossalpingografia, sendo úteis no alívio dos incômodos que o exame pode despertar.
Veja mais detalhes sobre a histerossalpingografia neste texto!
O que é histerossalpingografia?
Histerossalpingografia é um exame ginecológico de raio-X da região pélvica, que usa uma substância à base de iodo como contraste, aumentando a nitidez das imagens obtidas.
O contraste é inserido através do canal vaginal e deve ocupar toda a cavidade uterina e as tubas.
As imagens obtidas são mais detalhadas que os raio-X sem contraste e são capazes de expor detalhadamente as condições dos tecidos de revestimento dessas estruturas e sua anatomia geral, aumentando a acurácia dos diagnósticos baseados neste exame.
Como é feita?
Alguns cuidados podem ser tomados antes da realização do exame para diminuir os incômodos decorrentes do procedimento e aumentar a nitidez das imagens.
É aconselhável que a paciente se apresente com a bexiga esvaziada e, se possível, também os intestinos, para que o útero e as estruturas adjacentes sejam vistos com clareza.
A histerossalpingografia não deve ser feita em mulheres grávidas, porque o raio-X oferece risco de danos ao feto, sendo igualmente contraindicada às mulheres que estejam com qualquer infecção ativa por ISTs, mas especialmente a clamídia e a gonorreia.
A Histerossalpingografia é realizada com a paciente em posição ginecológica e, com a ajuda de um espéculo, o contraste é inserido através de um cateter bastante fino, no orifício do colo do útero.
O contraste é um líquido colorido à base de água que mapeia os órgãos do sistema reprodutivo enquanto percorre trajeto que inclui o útero, as tubas uterinas, que se mostram bastante destacados nas imagens obtidas por esse exame.
O exame todo dura até 30 minutos e a mulher pode retomar suas atividades cotidianas normalmente após a alta.
A histerossalpingografia é desconfortável?
A histerossalpingografia é conhecida por ser um exame com potencial doloroso, porém atualmente alguns cuidados simples podem fazer com que a dor seja sentida como um leve incômodo.
Isso diminui inclusive a ansiedade que algumas mulheres apresentam pela necessidade de fazer esse exame.
O uso de relaxantes musculares com ação específica na região abdominal, assim como alguns anti-inflamatórios, pode reduzir o desconforto.
Caso a sensação dolorosa seja mais intensa, aconselha-se o uso de sedativos leves, por via endovenosa. A dor causada pela histerossalpingografia, no entanto, não resulta do exame em si, que é minimamente invasivo.
O exame realizado por profissional experiente, com cateter mais maleável e injeção lenta do contraste minimiza de forma considerável o desconforto do exame. Informe-se sobre locais de referência para realização do exame para seu melhor conforto.
Muitas vezes as próprias doenças que este exame pode ajudar a diagnosticar deixam mais sensível tanto o útero como as tubas uterinas, já que sua solicitação costuma ser feita em meio à investigação de infertilidade por comorbidades anatômicas nessas regiões.
Indicações da histerossalpingografia
O principal objetivo do exame é avaliar as alterações anatômicas do sistema reprodutivo e as condições em que se encontra seu tecido de revestimento interno.
Por isso, as principais indicações para a histerossalpingografia incluem formas diversas de malformações uterinas e tubárias, a presença de qualquer deformação anatômica resultante da presença de pólipos, miomas, adenomiose e hidrossalpinge, além das sinequias uterinas, que aparecem como aderências e cicatrizes de outros procedimentos.
A histerossalpingografia também pode ser usada para averiguar o sucesso de alguns procedimentos cirúrgicos, como a laqueadura tubária e também a cirurgia que promove sua reversão por meio do religamento das tubas.
Resultados da histerossalpingografia
O radiologista que executa a histerossalpingografia também produz um relatório baseado nas imagens obtidas e o diagnóstico ginecológico é feito a partir desse relatório.
Se as imagens indicam obstruções no trajeto do sistema reprodutivo, outros exames podem ser solicitados de acordo com as suspeitas levantadas pela histerossalpingografia.
Caso não existam maiores alterações no resultado desses exames, a infertilidade por obstrução ou deformação anatômica deve ser descartada.
A partir do diagnóstico, o melhor tratamento é escolhido para atender as necessidades específicas de cada comorbidade, porém quando o comprometimento anatômico, especialmente das tubas uterinas, é grande, é possível que o quadro de infertilidade seja permanente, apenas reversível por meio das técnicas de reprodução assistida.
Como a reprodução assistida pode ajudar?
A obstrução tubária causa infertilidade por impedir tanto a passagem do óvulo quanto do espermatozóide durante as relações sexuais, impossibilitando a fecundação.
Porém, enquanto houver reserva ovariana disponível para ovulação, as técnicas de reprodução assistida podem ser ferramentas valiosas na reversão da infertilidade.
A FIV (fertilização in vitro) é uma técnica de reprodução assistida de alta complexidade, em que a fecundação é feita em laboratório, fora do corpo da mãe, usando gametas coletados manualmente.
A possibilidade de retirar os óvulos diretamente dos ovários, por punção, pode contornar o obstáculo que a obstrução tubária oferece para que a fecundação ocorra por vias naturais. A FIV pode ser contraindicada apenas em casos de deformações uterinas graves e irreversíveis, que podem levar a perdas gestacionais por não conseguir manter a gravidez até o final.
Porém, mesmo nesses casos, a técnica pode ser feita com útero de substituição, em que a fecundação ocorre com os óvulos da mãe, mas a gestação acontece no útero de outra mulher, que se dispõe a cedê-lo.